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Entre pés descalços e telas brilhantes

Imagem de reprodução

Lembro da minha infância de pés descalços, correndo atrás de uma bola na rua de terra, inventando brincadeiras com o que havia à mão, comendo fruta direto do pé. Era simples, era leve, era tudo. Hoje, ao olhar para as nossas crianças, percebo que muitas vezes a diversão delas parece só existir quando há um celular por perto. E então surge aquele aperto no peito: será que eles estão perdendo algo?

A verdade é que nós também fomos vistos de forma semelhante. Nossos pais e avós lembram de tempos ainda mais difíceis: de irem descalços para a escola, de encaparem os cadernos com plástico de arroz para que durassem o ano inteiro. Enquanto isso, nós já tínhamos mochila nova, tênis para ir à aula e até a bola oficial comprada na loja. E, mesmo assim, éramos chamados de “geração mimada”.

É curioso como tendemos a romantizar a escassez e a enxergar com desconfiança as facilidades. O que para nós foi liberdade, para nossos pais era falta de opção. O que para nossos filhos parece “vício em tela”, para eles é simplesmente o espaço natural onde se encontram, jogam, conversam e descobrem o mundo. Não é que a infância de hoje seja melhor ou pior — ela é apenas diferente.

Assim como nós nunca entenderemos completamente a graça de brincar com boneca de sabugo de milho ou encapar caderno com o que se tinha à disposição, nossos filhos talvez nunca compreendam o quanto era especial uma partida de bets no final da tarde. Mas é nesse fio de gerações que se costura a beleza da vida: cada uma vive a infância possível do seu tempo — e todas têm o mesmo valor.

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