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MP vai investigar caso de menina que teve perna amputada após receber injeção em posto de Três Barras

Melissa, de 4 anos, segue internada em Joinville

Foto: Arquivo da família

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) instaurou uma Notícia de Fato para apurar uma possível negligência médica no atendimento de uma menina no Pronto Atendimento de Três Barras. O caso, que resultou na amputação de uma das pernas da criança, está sendo investigado pela 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas.

A situação foi relatada à 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas, após a suposta administração incorreta de uma injeção da categoria benzilpenicilina na criança, o que teria causado insuficiência renal e, posteriormente, a amputação de uma das pernas. A menina está atualmente internada no Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, em Joinville.

A Promotora de Justiça Ana Maria Horn Vieira Carvalho, titular da 4ª Promotoria de Justiça, determinou a expedição de ofício à Secretaria de Saúde de Três Barras para obter informações detalhadas sobre o atendimento médico prestado à criança. A Secretaria tem um prazo de cinco dias para responder.

De acordo com a promotora de Justiça, o MPSC busca esclarecer os motivos que levaram à amputação, incluindo a verificação da dosagem e aplicação da medicação. A investigação visa garantir a responsabilização adequada e a prevenção de futuros incidentes semelhantes.

EXAME

O material coletado da perna amputada da pequena Melissa, de 4 anos, foi encaminhado pelo Hospital Materno Infantil Jeser Amarante para um laboratório nos Estados Unidos. A previsão é de que o diagnóstico venha em duas semanas. Somente com este laudo será possível deixar claro o que aconteceu com Melissa logo depois de ela ter tomado a injeção da categoria benzilpenicilina para tratar uma infecção de garganta.

Segundo a madrinha de Melissa, Odilene Aparecida Monteiro da Silva, a menina deve passar pela sexta cirurgia em 11 dias de internamento, tudo para evitar que ela tenha complicações em outros órgãos.

A médica que atendeu Melissa no posto de saúde da localidade de São João dos Cavalheiros, interior de Três Barras, dra Aline Haag, conversou com a reportagem nesta terça-feira, 10. Ela contou que o quadro de Melissa era de amigdalite. “Um quadro extremamente comum. Então perguntei a mãe se ela preferia que eu receitasse medicamentos via oral ou a injeção da categoria benzilpenicilina, que tem efeito mais rápido. Foi quando ela me contou que a Melissa não gosta de tomar remédio e que, por isso, optaria pela injeção”, conta Aline. A menina estava com 38 graus de febre.

Aline conta que não viu a administração da injeção. A técnica de enfermagem, que tem 15 anos de experiência, aplicou o medicamento na perna da menina, seguindo o protocolo para estes casos. Logo depois da aplicação da injeção, Aline voltou a ver a menina ainda no posto e mediu sua febre, que teria baixado. A médica frisa que a mãe não retornou ao posto, mas mandou uma mensagem por WhatsApp, naquela mesma tarde, relatando a reação. “Nas sextas eu trabalho até o meio-dia no posto, então à tarde nem estava lá. A mãe me mandou a mensagem e eu a orientei a procurar o PA”, afirma.

De fato, a mãe procurou o Pronto Atendimento (PA) de Três Barras no fim daquela tarde, acompanhada do pai da menina, o pedreiro Jucélio Pereira. Conforme o casal relatou à reportagem, o médico que atendeu Melissa falou em alergia e receitou um antialérgico. Como Melissa não melhorou, no dia seguinte eles retornaram ao PA. A médica que atendeu a menina a transferiu para o Jeser Amarante, em Joinville. Depois de cinco cirurgias na tentativa de salvar o membro, a perna da menina foi amputada.

POSSIBILIDADES

Aline e outros médicos ouvidos pela reportagem levantaram a hipótese de Melissa ter desenvolvido a chamada Síndrome de Nicolau. No site da Sociedade Brasileira de Dermatologia, há um relato do que seria essa síndrome. Ela corresponderia a “uma embolia cútis (evento adverso raro, decorrente da administração de medicamentos intramusculares) medicamentosa com oclusão vascular (bloqueio do fluxo sanguíneo) e necrose da pele e tecidos próximos, relacionada ao uso de medicações como antimicrobianos beta‐lactâmicos, anti‐inflamatórios não esteroides (AINEs) e, mais recentemente, preenchedores de ácido hialurônico”.

Na bula da injeção da categoria benzilpenicilina, há uma citação no tópico sobre “Reações adversas a partir de relatos espontâneos e casos de literatura (frequência desconhecida)” que cita como “Sintomas locais: Embolia cutânea medicamentosa (Síndrome de Nicolau), eritema (manchas vermelhas na pele) e hematoma no local da aplicação” e manda que, neste caso, o paciente “informe a seu médico, cirurgião dentista ou farmacêutico o aparecimento de reações indesejáveis pelo uso do medicamento. Informe também a empresa através do seu serviço de atendimento.”

Dois médicos ouvidos pela reportagem na condição de anonimato explicaram que se fosse um caso de síndrome de Nicolau, a reação não seria tão rápida e poderia levar dias, por isso, na visão deles, é mais provável que tenha sido realmente uma aplicação da injeção em uma veia ou artéria, dada a rapidez com que o quadro evoluiu. Eles ressaltam, contudo, que não examinando a menina fica impossível afirmar qualquer coisa.

PRIORIDADE

A família diz que a prioridade no momento é focar na saúde de Melissa. Eles não procuraram advogado nem a Polícia para registrar boletim de ocorrência e os pais não querem falar com a imprensa no momento.

Eles pedem, apenas, que quem puder ajudar que doe por meio das vaquinhas virtuais abertas pela família. As chaves pix para fazer doações são: melissaluara11@gmail.com 096.892.999-05, em nome de Veridiane Aparecida Alves de Lima.

A família diz que pediu ajuda ao Município de Três Barras, mas receberam a garantia de apenas R$ 24 por dia pelo prazo de 15 dias, o que renderia R$ 360. Após os 15 dias o Município tentaria uma prorrogação.

Procurado, o Município informou que deve emitir uma nota oficial sobre o caso assim que estiver concluída a apuração técnica do ocorrido.

**Via JMais

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