A amora-preta, o inhame e o pinhão, produtos típicos da sociobiodiversidade da Mata Atlântica, juntamente com a banana da região de Corupá, que tem o selo de Indicação Geográfica de mais doce do Brasil, passaram a fazer parte da alimentação escolar de Rio Negrinho e de São Bento do Sul, municípios do Planalto Norte Catarinense. Esses alimentos são fornecidos pelos agricultores familiares da região e estarão no cardápio dos alunos da rede municipal entre maio e junho, em comemoração ao Dia do Meio Ambiente, que será celebrado, no sábado, 5 de junho.
Nesta quarta-feira, 02, serão servidos pinhão cozido, lasanha de inhame, suco de amora e estrogonofe de banana nas escolas de São Bento do Sul. Em Rio Negrinho o cardápio foi preparado na semana anterior, quando cada unidade escolar escolheu a melhor forma de ofertar o alimento: teve cuca de amora, sagu, vitamina com banana, entrevero de pinhão, farofa e pastel de pinhão. Mais de 8,5 mil crianças serão atendidas com a ação nessas duas semanas nos dois municípios.
A iniciativa surgiu por meio de uma parceria entre os nutricionistas que coordenam o Programa Nacional de Alimentação Escolar de (Pnae) desses municípios e a Epagri, empresa do Governo do Estado que organizou os agricultores familiares para atender a demanda. O Pnae prevê ações de educação alimentar nutricional, em que inclui princípios como valorização da cultura local e da sustentabilidade social, ambiental e econômica.
“Quando se colocam alimentos como esses no cardápio, as escolas desenvolvem atividades para que a criança, além de consumir os produtos, entendam de onde eles vieram e a importância deles para a cultura local e para o bioma, no caso a Mata Atlântica”, diz a nutricionista Liliane Grein Beuther, da prefeitura de São Bento do Sul. Como exemplos, destacam-se ações de escolas de Rio Negrinho que trabalharam os temas em músicas, pinturas e até produção de livros de receitas.
O extensionista rural da Epagri neste município, Rogério Pietrzacka, destaca que a inclusão desses alimentos também faz com que os agricultores passem a valorizá-los e a preservá-los ainda mais, impactando na conservação do meio ambiente. “O pinhão, por exemplo, está presente na vida das famílias locais por muitas gerações e justamente essa disponibilidade faz com que muitas vezes ele não seja valorizado. Na semana do meio ambiente, o foco sobre ele será fundamental para que as crianças entendam, por exemplo, a importância da preservação da araucária”, explica.
Rogério lembra que a banana não é um produto da Mata Atlântica, mas foi incluída como um produto da sociobiodiversidade por diversos fatores. Um deles é o fato da região ter a Indicação Geográfica do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) de mais doce do Brasil. “O selo reconhece como banana mais doce a fruta produzida em Corupá e partes de São Bento do Sul, Schroeder e Jaraguá do Sul. Nessa região, quase mil famílias vivem desse cultivo”, explica o extensionista. Outro motivo é a peculiaridade de produção, que tem uma forte interação entre cultura agrícola, meio ambiente preservado e tradição de produção pelas famílias. “Além da importância socioeconômica e cultural, os alimentos foram escolhidos, é claro, por suas propriedades nutricionais”, esclarece.
O extensionista ressalta que Campo Alegre e Corupá, que juntos com São Bento do Sul e Rio Negrinho compõem o Consórcio Quiriri, também participariam da ação, mas em função da pandemia e da dificuldade logística do sistema híbrido de aula optaram por não fazer parte agora. “Assim que os municípios participaram, o alcance global do projeto prevê o atendimento de 17,6 mil estudantes e a compra 880 kg de cada produto para atender esse público”, diz Rogério.
Semana do Meio Ambiente
Como atividades da semana do meio ambiente, as crianças da rede municipal de ensino de Rio Negrinho e de São Bento do Sul, composta por aproximadamente 13 mil estudantes, vão assistir um audiovisual produzido por Rogério e Liliane. Na produção, eles explicam, em uma linguagem acessível para os pequenos, o conceito de bioma e de sociobiodiversidade, as propriedades nutricionais dos alimentos escolhidos e a importância deles na cultura local e na preservação da Mata Atlântica e de todos os tipos de vida que nela habitam, da qual também faz parte o ser humano.
Segundo Rogério, o projeto deve ser ampliado conforme a disponibilidade de recursos. Uma das intenções é ofertar mais alimentos da Mata Atlântica, como por exemplo, goiaba, pitanga, jabuticaba, fisális, erva-mate. “Outra pretensão é trabalhar o conteúdo de forma interdisciplinar e fazer um resgate de receitas das famílias dos alunos como forma de valorização da história e cultura local, transformando todo esse saber em um livro”, diz o extensionista.