É possível ter pinhão no mercado o ano inteiro e não limitar a venda apenas aos cinco meses de colheita, entre abril e agosto. Para isso, é preciso beneficiar a semente da araucária. A importância desse processamento será mostrada na próxima quarta-feira (5), das 8h30 às 17h, para produtores e empresários da Região Sul do Estado na 2ª Oficina do Pinhão do programa Vocações Regionais Sustentáveis (VRS), da Invest Paraná, agência de negócios do Governo vinculada à Secretaria Estadual de Indústria, Comércio e Serviços (Seic).
O evento será na cidade de Inácio Martins, no Centro de Eventos Silvino Pasqualin. As inscrições são gratuitas pelo site do VRS. A oficina tem apoio da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Embrapa e Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR).
“Capacitar os pequenos produtores e empreendedores é uma diretriz do governo estadual. Com capacitação é possível agregar valor à produção, nesse caso o pinhão, e, assim, gerar mais renda e empregos no Estado”, destaca o secretário da Indústria, Comércio e Serviços, Ricardo Barros.
O pinhão é uma das quatro cadeias do VRS, programa voltado a pequenos produtores que valoriza as vocações econômicas de cada região, inserindo valor comercial aos produtos, sem deixar de lado processos tradicionais na produção. Entre as ações, estão a criação de marcas regionais, ressaltando questões como sustentabilidade, o que agrega valor aos produtos.
Atualmente, o programa atua em quatro regiões: no Litoral, com produtos de banana, palmito pupunha, açaí juçara, frutas sazonais e turismo; na região Centro-Sul, com erva-mate e pinhão; e no entorno da futura Represa do Miringuava, em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, na produção agrícola local. O VRS também está em fase de implantação no Vale do Ribeira, área que é grande produtora de tangerina e com grande potencial turístico.
A oficina vai apresentar dados da pesquisa de aproximadamente um ano com 600 propriedades rurais onde há araucárias na região Centro-Sul. O levantamento aponta que o pinhão tem potencial, mas ainda é um comércio muito informal justamente porque a semente não é beneficiada para ter valor agregado.
“Dá para ter pinhão o ano inteiro no mercado. Se o pinhão for pré-cozido e embalado à vácuo ou mesmo transformado em farinha e outros produtos, há potencial. O que precisa é consolidar e transformar o pinhão em produto para o mercado, que é o papel da Invest Paraná dentro do programa VRS”, destaca o gerente de Desenvolvimento Econômico da Invest Paraná, Bruno Banzato. “O primeiro passo nesse processo é fazer o rastreamento da produção, uma catalogação com selo e depois evoluir para os produtos”.
UNIDADE DE PROCESSAMENTO – Uma das principais ações nesse sentido será a instalação de uma unidade de processamento de pinhão em Inácio Martins. A agroindústria é uma iniciativa do Consórcio Intermunicipal para Desenvolvimento Regional (Conder) que representa as dez cidades da Associação dos Municípios do Centro-Sul do Paraná (Amcespar): Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Imbituva, Inácio Martins, Irati, Mallet, Prudentópolis, Rebouças, Rio Azul e Teixeira Soares. A iniciativa tem apoio do Governo do Estado e do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Quando estiver instalada, a unidade de processamento vai produzir pinhão pré-cozido embalado à vácuo e farinha, que pode ser usada na elaboração de diversos alimentos, como bolos, tortas e salgados, podendo, inclusive, substituir o trigo, com a vantagem de não conter glúten.
“O pinhão é muito perecível em sua forma natural, como consumimos hoje. Estraga em uma semana, aproximadamente. Mas se for processado, pode ir para as prateleiras dos supermercados, com duração de cerca de um mês”, explica o secretário municipal de Meio Ambiente de Inácio Martins e um dos representantes do Conder na instalação da unidade de processamento, Éder Lopes, que vai palestrar na oficina do VRS.
Na missão em maio à Sial Foods, a maior feira de alimentos do Canadá, a Invest Paraná levou farinha de pinhão que foi usada na elaboração de diversos alimentos, como tapioca.
Maior produtora de pinhão do Paraná, Inácio Martins colheu 700 toneladas da semente em 2021. Quantidade que, segundo Lopes, poderia ser ainda maior se houvesse um mercado consolidado com o pinhão processado.
“Boa parte do pinhão se perde na própria propriedade rural, já que o pessoal não colhe porque a maior parte da produção fica nas mãos de atravessadores. A ideia dessa unidade de processamento é comprar o pinhão dos pequenos produtores por um valor maior do que é pago pelos atravessadores, gerando renda a esses produtores que têm que preservar as araucárias em suas propriedades”, aponta o secretário municipal.
RENDA DO PINHÃO – A engenheira florestal Daniele Ukan, professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), aponta que o fato de nenhuma das propriedades visitadas na pesquisa se considerar produtora de pinhão mostra a necessidade de se consolidar esse mercado.
“Há muitos produtores com araucárias em suas propriedades, mas poucos coletam para venda. Colhem apenas para consumo próprio, familiar. Tanto que nenhum deles se identificou como produtor de pinhão porque não há esse senso de pertencimento com a cultura, que é o que o programa pretende alterar”, ressalta a pesquisadora que também vai palestra na oficina. “Esses produtores precisam entender que o pinhão pode gerar renda, não deve se limitar à venda na beira da estrada”, complementa.
Essa capacitação da produção, aponta a pesquisadora, vai colaborar para a conservação da floresta de araucárias. Até pela possibilidade de o pinhão ser cultivado junto com a erva-mate, que ganha valores nutricionais e um sabor diferenciado quando cultivado à sombra das araucárias.
“Hoje o pinhão é visto como uma renda extra, mas pode ser a renda principal dos produtores. A araucária é o símbolo do Paraná e o pinhão tem valor nutritivo, por isso tem que ser valorizado. Quem tem araucária na propriedade está perdendo dinheiro por não beneficiar o produto”, concluí.