Desde o início da pandemia uma das maiores expectativas da população mundial era a produção e chegada da vacina contra a Covid-19. No domingo, 17, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial da CoronaVac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan de São Paulo, em desenvolvimento com o laboratório chinês Sinovac, para abastecer o país.
Os estados brasileiros já receberam algumas doses para iniciar a vacinação nos profissionais de saúde que atuam na linha de frente ao combate a pandemia. Em Porto União, União da Vitória e região os primeiros profissionais foram imunizados nessa terça-feira, 19, logo após a chegada da vacina.
Mesmo com a vitória da ciência na elaboração e comprovação da eficácia da vacina, muitas pessoas estão se recusando a se vacinar, alegando inúmeros motivos. Muitos desses chegam por conta da desinformação, muitas vezes disseminadas por meio das redes sociais e grupos de WhatsApp, fazendo com que as pessoas tenham medo da vacina. As Fake News entorno da mesma trazem não só desconfiança como também criam estereótipos disfarçados de xenofobia entorno da “vacina chinesa”.
Há um grupo limitado de pessoas que se dizem antivacinas, porém, a maioria da população não chega a fazer parte desses grupos, e só fica desorientada, insegura e com medo devido a enxurrada de informação incorreta que chega até elas. Isso envolve também a questão de desincentivo a credibilidade dos meios de comunicação.
Essa desinformação não acontece apenas com a questão da Covid-19. A vacinação para outras doenças quase não vistas mais no Brasil, como o sarampo, fez com que o país perdesse seu selo de controle da doença. A cobertura vacinal, na última campanha contra a poliomielite, caiu muito, refletindo a desconfiança gerada pela desinformação.
A vacinação, no calendário adulto, não é obrigatória para nenhuma vacina, porém é esperado que a população tenha o “bom senso” e a responsabilidade de manter a carteirinha em dia. Depois da fala do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), no ano passado, de que a imunização contra a Covid-19 não seria obrigatória, os rumos dessa discussão ganhou um novo fôlego.
O Supremo Tribunal Federal (STF) não irá tornar a vacinação contra a Covid-19 obrigatória, porém, algumas restrições poderão ser tomadas nos estabelecimentos comerciais e também por parte de empregadores, em relação a parcela da população que não quer se vacinar.
Mas então por que tomar a vacina?
Há um conceito chamado “imunidade de rebanho” que está cada vez mais popular, sendo mais importante quando se fala de vacinas do que de contaminação. Esse conceito diz respeito à porcentagem da população necessária para imunizar e acabar com a circulação do vírus. Logo, quanto mais pessoas se vacinarem, melhor as chances de erradicar um vírus.
Especialistas indicam que aproximadamente 70% da população sendo imunizada, garantindo uma melhor segurança, seria possível começar a controlar o micro-organismo e assim conseguir cortar a sua transmissão. Mas essa porcentagem é a nível mundial e, levando em consideração que há mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, começar a erradicar a doença pode levar anos.
Logo, a melhor maneira de chegar ao percentual desejado é vacinando em massa a população. O ideal é que todas as pessoas passíveis de contágio sejam imunizadas, mas algumas não podem se vacinar. É o caso de pessoas imunossuprimidas ou com algum problema de saúde que inviabilize o uso de vacinas. Atingindo a porcentagem, o vírus para de circular e essas pessoas também ficam protegidas. Se vacinar é mais do que auto proteção, se vacinar é saber o real significado de ter empatia com as pessoas que estão em seu entorno sendo elas família, amigos ou colegas de trabalho.
Caso não haja cobertura vacinal suficiente, no caso da Covid-19, é possível tornar a imunização obrigatória pelo interesse coletivo, porém, essa situação não seria a ideal e não deve acontecer durante este governo.
Mesmo com a população imunizada corretamente, o Coronavírus não desaparecerá de um dia para o outro. A professora Anamélia Lorenzetti Bocca, coordenadora do laboratório de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB), dá o exemplo da poliomielite, que está em processo de erradicação agora, porém a vacina já existe desde os anos 1960. “Mas o desaparecimento não é o ponto principal. É proteger as pessoas e evitar que o vírus faça a cadeia de transmissão. Assim, o micro-organismo não vai mais causar surtos e mortes”, explica.
É um longo processo que precisa ser aderido por toda população para que o mais rápido possível a vida volte a sua normalidade. Outra informação importante sobre a não vacinação de todas as pessoas, é que o vírus da Covid-19 pode sofrer mutações, inviabilizando a eficácia deste primeiro imunizante. E aí todo o pesadelo que foi vivido no início da pandemia, retorna.
Já há variantes da Covid-19, com um poder de contágio muito maior, registrados em alguns países e também no Brasil. Os casos de reinfecção também já fazem parte das estatísticas brasileiras.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacinação em massa evita pelo menos quatro mortes por minuto ou um total de 2 milhões de vidas por ano. De acordo com uma pesquisa da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, entre 2001 e 2020, economizaram-se US$ 350 bilhões (cerca de R$ 1,8 trilhão) em custos com tratamento graças à vacinação.
Separamos algumas informações sobre dúvidas frequentes entorno da vacina CoronaVac que foi distribuída aos municípios.
Qual a composição da CoronaVac?
A CoronaVac utiliza uma versão inativa do Sars-Cov-2, vírus que provoca a Covid-19. Dessa versão, a cepa nomeada CZ02 foi cultivada em um tipo de célula de rim de macaco nomeada células Vero. Para produzir a vacina o vírus foi então inativado, exposto ao calor ou a alguma substância química para perder o poder de infecção. Com ele congelado, logo não se replica nem gera doença.
Após esse processo, foi acrescentando o hidróxido de alumínio, substância já utilizada na produção de outras vacinas, que age como um ajudante para que a vacina gere anticorpos em quem as recebe.
Como a CoronaVac age no corpo após aplicada?
Uma vez injetado na corrente sanguínea da pessoa, o vírus inativo é detectado pelo sistema imunológico, que desenvolve formas para combatê-lo. Assim, quando o corpo tiver contato com o vírus ativo, os anticorpos saberão como responder.
Mas a CoronaVac é segura?
Ela utiliza a mesma tecnologia de várias outras vacinas, como a da gripe por exemplo, que também faz uso do vírus inativado, sendo um dos processos mais tradicionais no desenvolvimento de vacinas bastante seguras, segundo especialistas. Como a técnica é utilizada há décadas, os efeitos colaterais são mais previsíveis.
E o tempo recorde em que foram produzidas? Pode trazer algum prejuízo em sua segurança ?
O tempo recorde de produção das vacinas não traz nenhum prejuízo na segurança. Isso porque a tecnologia utilizada para produzi-las já é conhecida, sendo a mesma da vacina da gripe. Já haviam estudos com o vírus Sars-Cov-1 há pelo menos 10 anos. O que aconteceu foi que o vírus mudou, ou seja, o Sars-Cov-1 foi uma preliminar da vacina para o Sars-Cov-2, não havendo risco na rapidez com que as vacinas foram produzidas.
Quais os efeitos colaterais?
Nenhum efeito colateral grave foi relatado durante os testes clínicos da CoronaVac. As reações mais comuns foram dor, edema e/ou inchaço no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga.
Qual a eficácia da CoronaVac?
A vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac foi anunciada com três porcentagens diferentes e causou certa confusão nas pessoas. Ela obteve uma eficácia geral de 50,38%, um índice de 78% de prevenção de casos leves e 100% de prevenção para casos moderados e graves da doença.
Antes de entender a eficácia, é preciso saber que o estudo foi realizado com 13.060 voluntários, todos profissionais da saúde, que é uma população muito exposta a doença. Metade desse grupo de voluntários tomou a vacina CoronaVac e a outra metade tomou um placebo. Desde o início dos testes, em julho, 252 pessoas foram infectadas com a Covid-19, sendo 167 do grupo que tomou a vacina placebo e 85 do grupo que tomou a CoronaVac.
100% – Essa porcentagem de eficácia foi obtida porque, entre as pessoas do grupo vacinadas com a CoronoVac que contraíram a doença, nenhuma precisou de internação ou obteve sintomas moderados/graves. Logo, a vacina evita casos graves e moderados que precisam de internação e consequentemente geram mortes pela doença. Já do grupo que recebeu a vacina placebo, foram sete casos graves registrados.
78% – Nos casos leves, em que as pessoas apresentaram poucos sintomas da Covid-19 e receberam algum tipo de atendimento médico mas não precisaram de internação, foram sete casos no grupo vacinado e 31 no grupo de placebo. Isso significa que para a prevenção dos casos leves, com sintomas mas sem necessidade de internação, a eficácia da vacina é de 78%.
50,38% – Este número foi calculado com as 252 pessoas que foram contaminadas dos dois grupos do ensaio, com qualquer gravidade da doença. O cálculo estatístico concluiu que há uma proteção de 50%, ou seja, quem tomar a vacina tem 50,38% menos risco de se contaminar com a Covid-19 e, caso seja infectada, tem 100% de certeza que os sintomas não irão ser graves, não precisando de internamento, UTI e consequentemente evitando o óbito. Esse valor é calculado com as duas doses da CoronaVac já aplicadas.
Por que duas doses?
Apenas uma dose da vacina torna a eficácia da resposta imunológica do corpo menor a doença. Ou seja, uma dose apenas irá preparar o sistema imunológico para um ataque viral e a segunda dose aumentará a imunização.
O Ministério da Saúde recomenda que a segunda dose seja aplicada em um intervalo de duas a quatro semanas após a primeira. De acordo com o laboratório Sinovac, o estudo realizado no Brasil indicou que a vacina foi até 20% mais eficaz quando os voluntários recebiam a segunda dose com um intervalo de três semanas ao invés de duas.
Como devemos nos comportar após a primeira dose?
Após a primeira dose é essencial que a pessoa continue fazendo uso de todas as medidas de prevenção necessárias como o uso correto da máscara, higiene adequada das mãos, utilização de álcool em gel a 70%, distanciamento físico e evitar aglomerações. Os cuidados precisam se manter contínuos pois a eficácia das vacinas foi amplamente avaliada analisando se elas evitavam que as pessoas desenvolvessem os sintomas e não se impediriam que elas contraíssem a infecção.
Quanto tempo após a vacinação estarei imunizado?
Nos estudos realizados foi observado que após 14 dias da aplicação da segunda dose da vacina há soro conversão para imunidade. Porém, há a necessidade de conclusão de estudos técnicos sobre o tempo de imunidade por parte do Ministério da Saúde.